EDUCAÇÃO EM TEMPOS DE PANDEMIA: DESAFIO OU POSSIBILIDADE? PARTE III
Maria Graciete Moreira
ATUAÇÃO DOCENTE FRENTE À PANDEMIA
É indiscutível a criatividade apresentada pelos profissionais da Educação em se adaptar frente aos obstáculos, que surgem em virtude da pandemia utilizando recursos midiáticos. Vale ressaltar que, não se trata apenas de inserir esta ferramentas a qualquer custo em suas aulas e, sim, em acompanhar consciente e deliberadamente uma mudança de comportamento de uma sociedade que questiona profundamente as formas institucionais, as mentalidades e a cultura dos sistemas educacionais tradicionais e, sobretudo, os papéis de docente e de discente (CORDEIRO, 2020).
As propostas debatidas, atualmente, acerca desta temática, mobilizam as instituições de ensino em todas as instâncias, mas, principalmente, as instituições de ensino superior. Nesta perspectiva, é possível inferir acerca das atuais preocupações e dificuldades apresentadas pelos profissionais que se veem inseridos em um processo de mudança tão repentina e em proporção inimitável, onde de um lado, está uma parcela dos acadêmicos familiarizados com o meio digital, e do outro lado,docentes que já se atentavam com suas diversas atividades, agora tendo que repensar e se especializar ainda mais em possibilidades mediante a conjuntura das novas tecnologias. Dessa forma, Barbosa, Viegas e Batista (2020) ressaltam que, há esforço que está além de conhecer o uso de um novo dispositivo, ambiente virtual, e/ou aplicativos, mas sim, que consiste em como colocar toda essa ação docente em prática e de maneira com que o processo de ensino-aprendizagem alcance a excelência.
A interação do docente com o acadêmico por meio de chats, fóruns, salas de tarefas e uma infinidade de ferramentas disponíveis não depende apenas da mudança de postura do acadêmico que, na ausência do hábito da autoaprendizagem, gera baixa autonomia e, consequente, reflexo na dificuldade de apresentar um papel ativo e interativo durante as aulas. Dosea e seus colaboradores (2020) alertam para a dificuldade dos docentes em responder às necessidades individuais diante da turma, o domínio técnico insuficiente quanto ao uso dos recursos digitais e as dificuldades de acesso à internet de maneira síncrona.
Segundo Moreira e seus colaboradores (2020), muitos docentes transformaram-se em youtubers, gravando videoaulas e aprendendo a utilizar sistemas de videoconferência, muitas vezes, sem um treinamento prévio. Neste sentido, as instituições de ensino superior buscaram ofertar cursos introdutórios para o uso das tecnologias como recurso no processo de ensino-aprendizagem, com o propósito de direcionar os docentes para a utilização dessas tecnologias educacionais. Esta é uma estratégia adotada e que deve permanecer a ser estimulada, pois, conforme os achados de Limeira, Batista e Bezerra (2020), observou-se que, quase metade dos professores não tinham o hábito de utilizar essas plataformas, dificultando o exercício da sua função.
A esse respeito, Goedert e Arndt (2020) discutem acerca da exposição do docente, que agora vê seu material e suas falas extrapolando as salas de aula presenciais e sendo compartilhadas no mundo digital. Tudo isso gera insegurança, um elemento a mais de desestabilização dentro de um cenário epidemiológico que por si só já é bastante caótico. Conforme apontado pelos autores, são muitos os especialistas realizando lives, recomendando o que o professor deve fazer e quais instrumentos utilizar para promover atividades não presenciais. São tantas expressões novas que o docente acaba se vendo num emaranhado conceitual e procedimental que o expõe ainda mais pedagogicamente, já não bastasse as dificuldades no manejo das ferramentas tecnológicas.
A insegurança profissional e as reflexões divergentes de docentes com questões mais técnicas geram inquietações entre o corpo docente, descontruindo todo um planejamento antes já realizado.
Apesar disto, Nhantumbo (2017) ressalta ser significativo que docentes consigam criar oportunidades de ensino-aprendizagem inovadores e que fomentem um cenário de qualidade, permitindo também conjugar recursos que promovam a interação entre o desenvolvimento de competências específicas. Mas, conseguir tal façanha significa um verdadeiro ato de heroísmo.
Como se não bastassem tantos problemas a serem superados, há de ser considerar ainda o estado mental do profissional.
Cordeiro (2020) aponta que, o isolamento social, tanto involuntário quanto forçado, tem provocado inúmeros prejuízos ao ser humano, despertando um cenário de estresse, ansiedade e outros distúrbios comportamentais associados ao uso excessivo de telas. A sobrecarga de trabalho pode influenciar no tempo de atividades em família, cotidianas e/ou de descanso que lidam, também, com a saudade e a perda de seus entes queridos. Nota-se que, dentre os principais estressores durante uma pandemia são o risco de contágio, a obrigatoriedade pelo confinamento, o estigma de exclusão social e a perda financeira e insegurança no emprego (ANDRADE; PINTO, 2020).
A mediação, entendida como elemento central nesse contexto, acaba exigindo do docente competências que não estão claras ou que não foram desenvolvidas.
Entretanto, embora esses desafios estejam postos, é consenso a importância da mediação docente no processo ensino-aprendizagem. E essa mediação vai muito além de ser um lecionador para ser um organizador do conhecimento, um mediador do conhecimento, um aprendiz permanente, um construtor de sentidos, um cooperador e, sobretudo, um organizador de aprendizagem (GOEDERT; ARNDT, 2020).
Portanto, as mudanças exigidas no perfil deste “novo” profissional estão mais do que presentes, deixando muitos insones em busca de novas perspectivas acerca do modo de ensinar. Este é um processo que ocorre em uma velocidade no qual muitos não conseguem acompanhar, considerando-se as especificidades apresentadas pelos acadêmicos, principalmente quando observados os aspectos que envolvem estrutura e acesso a ferramentas digitais, que criam novas demandas a serem suprida
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