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Sexta-feira, 13 de Setembro de 2024

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VOCÊ ACREDITA EM PAPAI NOEL?

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Por Adilson Garcia

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VOCÊ ACREDITA EM PAPAI NOEL?

 

 

 

Diz a tradição que o Papai Noel (Santa Claus) não vive propriamente no Polo Norte, mas sim na região da Lapônia na pequena cidade finlandesa de Rovaniemi. Em sua homenagem, criaram o Santa Park, endereço oficial do bom velhinho de barbas brancas.

O personagem foi inspirado em São Nicolau, arcebispo de Mira na Turquia no século IV. Segundo a lenda Nicolau costumava ajudar anonimamente quem estivesse em dificuldades financeiras. Colocava o saco com moedas de ouro a ser ofertado na chaminé das casas. Nicolau foi declarado santo por muitos milagres atribuídos. Depois na Alemanha foi transformado em símbolo natalino e a fama correu o mundo.

 

Enclausurado o ano todo, nas noites de natal sai no seu trenó puxado por renas e percorre onipresente o mundo todo, atendendo os pedidos da criançada que deixa cartinha com seus desejos infantis nas árvores de natal ou no pezinho de meia atrás da porta.

É cruel, porém verdadeiro, que muitas crianças sequer têm uma meia e outras nem porta têm para pendurar seus pedidos.

Todavia isso não importa, porque mesmo os infelizes maltrapilhos de rua, produtos da nossa sociedade desigual e egoísta, moradores de rua das calçadas de madrugadas frias, guardam na sua arvorezinha de natal imaginária os seus devaneios de criança.

Sonham ter uma vida digna, um prato quentinho no lugar dos restos de comida fria das migalhas que a sociedade lhe reserva. 

Sonham saber ler para poder escrever um bilhetinho ao Papai Noel. Sonham ter um lar aconchegante, com pai e mãe para confortá-los dos medos e angústias e protegê-los dos perigos e da violência da vida.

E na noite de natal, estáticos na frente das vitrines de luxo, sonham acima de tudo ganhar um presentinho, uma bonequinha, um carrinho, uma bola... Ou uma roupinha nova limpa e cheirosa no lugar de seus trapos encardidos.

Será que para essas crianças Papai Noel existe, se aparentemente nem Deus existe para elas?

Quando eu era criança, Papai Noel sempre se esquecia do meu endereço no natal. Era uma frustração só, um sentimento de vazio, uma tristeza danada. Nas minhas orações antes de dormir, de joelhos com os olhos voltados para o céu, perguntava por que Papai Noel não existia para mim. Será porque minha casa não tinha chaminé?

Afinal, eu era um bom menino, não fazia pipi na cama (tu juras? Rss), não fazia malcriação, ia sempre à escola e aprendia sempre a lição, seguindo fielmente as diretrizes da música do Carequinha, o palhaço que embalou com encanto a infância de todos nós, transformando a dureza de nossas vidas num palco circense de contagiante alegria.

Mas num certo natal, eu e minha irmã madrugamos para comer um pedaço de pão que descia seco no gogó, pois manteiga era luxo. Quando saímos do quarto tivemos a visão do paraíso: o danado Papai Noel pela primeira vez não se esquecera de nós.

Uau! Uma carriolinha colorida e uma bonequinha rechonchuda, sentadinha com um gorrozinho, que minha irmã batizou de Buchudinha, sua companhia inseparável até ser adulta, quando finalmente Buchudinha foi fazer a alegria de outra incógnita criança pobre.

Mas eu logo deixei minha irmãzinha em prantos porque apelidei a boneca de peidorreira pelo som que emitia pela bundinha, tipo um choro. Mas para mim na sacanagem pueril era um punzinho. Kkk.

A carriolinha estava quebrada. Coitada da minha mãe: deve ter comprado em liquidação por avarias. Mas isso foi irrelevante dada a importância do gesto que marcou minha vida. Sei que lá de cima ainda zela pelas suas crianças, porque para as mães os filhos são eternos bebês.

-A culpa foi do desajeitado Papai Noel, mãezinha querida!

Anos após, meu pai conseguiu sair da pindaíba que vivia se empregando na companhia de águas de Maringá (Codemar, encampada pela Sanepar). Na véspera do natal nos levou para a festa patrocinada pela estatal. Foi no Parque do Ingá, às margens do lago, na enorme palhoça onde hoje fica o pier dos pedalinhos.

Uau! Tinha churrasco, pipoca, algodão doce e a (então) rara coca-cola. E vocês não vão acreditar qual foi meu presente que o balofo Papai Noel tirou do enorme saco que ele carregava nas costas!

Caracas, uma bola de futebol do Rivelinooooô, meu ídolo! Fiquei em êxtase, entrei em estado de choque porque sou Corinthiano desde a barriga da miséria (rsss).

 

Já adulto, aprovado em concursos públicos por mérito e muita HBC (horas de bunda na cadeira), consegui bons empregos e altos salários acima do que eu precisava para viver. Mas nunca deixei de lembrar da infância pobre que tive e das dificuldades materiais das crianças que sequer têm o mínimo existencial para a sobrevivência.

Estou falando de comida, tá? Estou falando do flagelo da fome, que não era para existir porque poucos têm muito e muitos têm tão pouco... Vivemos em uma sociedade de desigualdades abissais gritantes que ecoam nos nossos tímpanos.

 

Lembro que trabalhando no interior do Mato Grosso em um banco estatal de fomento, eu acompanhava a luta e o altruísmo da sra. Dorothy Populim, a quem a sociedade de São José do Rio Claro deve pelo menos uma placa, por manter uma creche beneficente para as crianças pobres. Eu sempre colaborava financeiramente e quando algum cliente me oferecia um agrado eu preenchia uma guia de depósito em nome da creche.

Aí tivemos uma ideia: por que não criar um Papai Noel de verdade para as crianças? Mas quem? E como seria esse trenó?

 

Bem, pegamos um trator Massey Fergunson caindo aos pedaços da Prefeitura (um abraço lá no céu para o prefeito Thié – José Garcez Munhon –  e obrigado pelos queijos que fazia para mim), usado para carregar entulhos e lixo. Um marceneiro parceiro fez uma estrutura em forma de trenó e a carretinha foi decorada e adaptada para transporte humano. Ficou um show.

Mas e o Papai Noel? Tinha que ser um tratorista. Onde íamos arrumar um?

Desde a minha adolescência eu pilotava tratores nas lavouras do meu próspero Paraná. E no Mato Grosso, tinha como atividade secundária a agricultura. Nas horas vagas e fins de semana, o tratorista do meu jerico Valmet era eu mesmo, porque aquele Estado estava explodindo em desenvolvimento e mão-de-obra era escassa ao extremo.

Por isso, me transformei no Papai Noel e dirigia o trator, digo, trenó (rss) pela cidade, de comércio em comércio recolhendo donativos, com um enorme saco cheio de bombons, chicletes e balas distribuindo para a criançada nas ruas da periferia. E passeava com as crianças na carretinha.

Sob um sol escaldante, usava uma torturante barba branca feita de corda desfiada que pinicava até a alma, um gorro e um casaco de flanela vermelha com gola e punhos brancos. Por dentro havia recheio de estopa e algodão para engordar o Papai Noel e simular a barrigona. Aquele tempo eu era magro, hoje nem precisaria, tenho a pança natural. Kkk.

Aquela grossa indumentária fazia as vezes de sauna portátil!

-Hôw, hôw, hôw, ding on bell, ding on bell, feliz natal!

Feliz natal os cacetes, uma ova, uma pinoia! Eu me derretia todo e ainda vinha aquele bafo quente do motor do trator na minha cara! Putz! Papai Noel nos trópicos sofre, viu? Pote que o pariu! Rss.

Nunca as crianças e os comerciantes souberam quem era aquele Papai Noel, pois eu disfarçava a voz. Às vezes ofereciam mais presentes em troca da revelação da identidade. O Papai Noel concordava, mas quando pegava os presentes saia correndo com o saco na costa chacoalhando o sininho e gritando:

-Hôw, hôw, hôw, enganei um bobo na casca do ovo! Hôw, hôw, hôw!

E todos riam à beça.

Por vários anos fui o Papai Noel daquelas crianças pobres, até eu me mudar para o Rio de Janeiro para assumir novos desafios profissionais na minha longeva carreira bancária. Até hoje permaneceu o mistério do Papai Noel, agora revelado. Foi uma coisa marcante na minha vida, gratificante apesar do desconforto.

No último natal, ainda sofrendo os reflexos econômicos da Covid-19, eu e minha esposa fomos convidados por um casal de amigos para a ceia natalina, comemoração para poucos por causa das restrições sanitárias vigentes.

Chegamos quase uma hora depois da ceia e fomos recepcionados levando uma bronca pelo atraso. Abrimos a tampa traseira do Jeep e cada um saiu com um enorme caldeirão lambuzado de restos de comida.

-Desculpem amigos, onde podemos lavar essas vasilhas para não deixar cheiro no carro?

Quando se deu conta de que estávamos pelas palafitas das favelas alagadas distribuindo sopão, pão e suco para aqueles que não têm nada para cear na noite de Natal, o casal caiu em prantos se abraçando.

-Estamos envergonhados, o doutor poderia estar se esbaldando na nossa farta mesa, apreciando champagne francês no conforto, mas deu uma lição de humildade, fraternidade e altruísmo, se solidarizando com os carentes abandonados pela sociedade!

Amigos, o Papai Noel sempre vai existir. Por isso, não deixem morrer esse sonho pueril. Ressuscitem a magia do coração infantil que há dentro de si, pois nunca deixaremos de ser a criança que fomos um dia.

A propósito, o que você está fazendo em prol das crianças pobres neste Natal, mesmo? Ou você não acredita em Papai Noel?

Seja solidário para não se envergonhar da sua mesa farta ao lembrar dos hipossuficientes desprovidos materialmente.

Que tenhamos todos um Feliz Natal!

HÔW, HÔW, HÔW!

 

Comentários:
Adilson Garcia

Publicado por:

Adilson Garcia

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