Em nenhum momento tive medo de morrer.
Roberto Matias
Dia 12 de dezembro fui internado no HU e no dia 19 de dezembro tive alta. Até hoje tento entender o que aconteceu comigo.
Em nenhum momento tive medo de morrer. Primeira coisa que fiz foi proibir que fosse divulgado a minha situação. Depois deixei tudo escrito o que deveria ser feito se caso eu viesse a faltar. Não me despedir de ninguém.
Na saída olhei pro Guilherme e disse toma conta.
Tive a felicidade de ficar num apartamento que ficava com a janela com a visão externa do ambiente. Ali perdi a noção de tempo. Não sabia as horas e me perdia até nos dias. Simplesmente me guiava pelo tempo.
Quando tinha necessidade de me situar no tempo olhava para o tempo. Eu sentia necessidade de olhar pra fora... ver o tempo passar. Sentia falta de tudo.
Certo dia vi um casal em pé por algum tempo na frente do HU. De repente saiu o carro da funerária e o casal entrou num carro e seguiu em cortejo...
Pensei.... Ali vai mais um...
Quem será?
O que ele fez?
Qual sua idade?
Em nenhum momento eu me vi morto. A mão de Deus me dava segurança. Fazia planos para o futuro. Porém estava sereno para encarar uma situação mais delicada.
A presença da equipe técnica foi fundamental pra minha recuperação. Via seres humanos movidos por seus medos e inseguranças, porém aprendi com eles que por amor qualquer um de nós pode mover montanhas.
E quando eu olhava pra eles, eles passavam a certeza de que eu não estava sozinho. Em nenhum momento eles falaram de Deus. Simplesmente me deram segurança e a certeza de que só dependia de mim a travessia da noite escura.
Por falar em noite escura, o momento mais angustiante era quando chegava a noite. Era quando eu me deparava com as minhas fragilidades. Me sentia quase que excluído do prazer de ter uma cama, uma casinha, principalmente da liberdade, privacidade.
Era quando vinha o sentimento de impotência e de perceber que na vida nem sempre a gente tem o controle de tudo.
Aos poucos fui me despindo dos meus medos e prepotência. Não queria muita coisa não.... Só que naquele momento não fosse feita a minha vontade, mas a vontade de Deus.
Estar 8 dias dentro do HU foi o maior retiro espiritual que eu fiz. Foi a maior experiência da minha humanidade. Ali percebi que precisava zerar tudo e recomeçar ressignificando o sentido de amar e ser amado. O sentido de existir.
Até que ter me contagiado pelo covid foi mais do que experimentar na pele o que milhares de pessoas experimentaram, foi uma bela oportunidade de esvaziar todas as ilusões do caminho e perceber verdadeiramente que o essencial pra gente é ser feliz, mesmo quando tudo é escuro.
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