A LOIRA DO BANHEIRO – UMA LENDA URBANA.
Essa coisa de história de assombração era muito comum na roça ou nas comunidades ribeirinhas de antanho. Os mais velhos bons de prosa se reuniam com a criançada e contavam histórias horripilantes de assombração ao redor da fogueira ou da mesa à luz de lamparina ou vela após o jantar.
Depois da “sessão de terror”, as crianças iam dormir assustadas. Quem não tinha penico se mijava na cama com medo de ir à casinha no escuro da noite.
Uuuuuuuuhhhhhhhhhhhhh! (kkk).
Mas nas cidades também surgem as lendas urbanas com histórias assustadoras. A Loira do Banheiro é uma delas que se disseminou na maioria das escolas. Diziam que se a aluna falasse “loira do banheiro” três vezes em frente ao espelho, puxasse três vezes a descarga, falasse três palavrões e saísse batendo três vezes a porta do banheiro, a loira aparecia para assombrar quem entrasse lá logo depois.
A Loira do Banheiro era uma menina nova que aparecia vestida de branco com algodões ensanguentados no nariz.
Dizem que essa lenda assustadora surgiu de uma história real sobre uma garota chamada Maria Augusta, nascida no fim do século 19, em Guaratinguetá-SP (fonte: Revista Interessante). A loirinha foi obrigada pelo pai - o Visconde de Guaratinguetá - a casar-se aos 14 anos com um homem bem mais velho. Infeliz com o casamento, a garota vendeu suas joias e fugiu para Paris aos 18 anos. Morreu com tenros 26 anos e o motivo da morte é um mistério até hoje.
O terror continua quando a mãe da jovem traz o corpo de volta para o Brasil e o cadáver foi mantido em uma urna de vidro no casarão da família para visitação pública. Após um tempo, a mãe de Maria decide não enterrar a filha. Mas após sucessivas aparições da garota pedindo para que fosse enterrada, a mãe a sepulta.
Dez anos depois, construíram no lugar da casa a Escola Estadual Conselheiro Rodrigues Alves. Aí começa a lenda, porque corriam boatos de que o espírito da moça vagava pela escola.
Essa história da “Loira do Banheiro” ganhou força quando um incêndio misterioso consumiu parte da escola lá pelos idos de 1916. De acordo com a lenda, o espírito andava pelos banheiros da escola abrindo torneiras para saciar sua sede e clamando para ser enterrada.
-Me enterra! Me entéééééééééérrra! Me entéééraaaaaaaaááááá! Uuuuuuuu, uuuuuuu! Ááágua, ááááááááguaaaa, ááguuuuuuuuááááááááá!
Coincidentemente, na década de 1970 eu estudava em uma escola de mesmo nome, o Grupo Escolar Rodrigues Alves lá na Vila Santo Antônio, em Maringá. Quando aprendi as primeiras lições da cartilha “Caminho Suave” sob a batuta e os olhos azuis da encantadora professorinha Neide Lombardi, a escola era de madeira em frente à Igreja Santo Antônio. Por volta de 1975, o local cedeu espaço a uma praça e a nova escola foi edificada onde era o campo de futebol do bairro, ali na esquina da avenida Morangueira. E até hoje não construíram um centro esportivo na vila do santo casamenteiro.
O liceu era muito ortodoxo para o meu gosto pois não acontecia nada de anormal. Aí é dose, hein! Só estudar, estudar, estudar é flórida, né? Nem deixar jogar bola no intervalo a escola deixava! Putz!
Era uma escola muito monótona, embora gozasse de excelente conceito. A diretora, prof. Lourdes Orlandi Messias parecia a dama de ferro Margaret Thatcher, pois conduzia aquela escola com mãos de ferro (rss). Ninguém mijava fora do urinol.
E outrora a gente respeitava os professores e melecava os cueiros de medo das punições intra e extra escolares, porque o coro comia lá em casa se fizesse tolice. Foi-se esse tempo: hoje poste mija em cachorro, aluno não pode repetir de ano e se professor der bobeira apanha de aluno! É desse jeito, é mole ou quer mais!
Sei não, mas eu acho que eu tinha um pacto com Satanás, o Príncipe das Trevas, porque não perdia uma oportunidade de assustar alguém. Era um prazer mórbido (rsss).
Na época estava correndo um boato da Loira do Banheiro nas outras escolas e na minha escola nada, nadica de nada! Mula que o pariu, que escola chata! (ia escrever p..., mas tem professor que lê minhas crônicas pros petizes na sala de aula)! Kkk.
Bem, como vocês podem deduzir, eu odiava monotonia. E nada da Loira do Banheiro fazer uma visitinha na Rodrigues Alves.
Por isso arquitetei um plano macabro. Era logo depois do carnaval e sobrou uma fantasia que eu usei na quadra do Maringá Clube, uma túnica branca de lençol velho que minha mãe costurou pra mim e uma peruca loira Kanekalon esfiapada que a tia Terezinha me deu.
Veja bem, naquela época a gente pulava carnaval fantasiado de mulher, mas não tinha essa veadagem que tem hoje (rss). Que isso fique bem esclarecido, talkey!
Eu, Toninho, “Catedral”, Aldair e Joãozinho vestimos o polaco Nivaldo com aquela roupa branca, a peruca se misturou aos seus cabelos loiros naturais e enfiamos chumaços de algodão lambuzado de mercúrio no nariz dele. Antigamente mercúrio ardia, mas dane-se, o nariz não era meu! (Kkkk).
Fomos por trás dos banheiros, fizemos escadinha e pinchamos pela janela a “Loira” pra dentro do toalete das meninas.
Amigos leitores, foi um espetáculo. Na hora do recreio, alunas que foram soltar um xixizinho (o number one) ou um barrinho (o number two) saíram correndo desesperadas pelos corredores, gritando, chorando, desmaiando, caindo esfolando os joelhos e trombando uma na outra. Foi um horror.
E a turminha se cagando de rir. Eu fiquei dois dias com dor na bochecha. Era só lembrar que eu caía na gargalhada de novo (kkkkk).
A escola ficou fechada uma semana. Só reabriu depois que uma comissão de pais e mestres, polícia, conselho tutelar, padre e os escambaus inspecionaram os banheiros. Entre eles, meu prof. de matemática e ciências, Wilson de Matos Silva (Unicesumar), que na época era pobre, andava num fusquinha bege e morava nos pombais da Cohab da Vila Esperança. Bons tempos, né professor Wilson!
Pois é... diretora Lourdes Orlandi Messias, que me adorava por ser bom aluno, por participar dos concursos de quadrilha junina, da fanfarra, das oficinas e das corridas de cross country nas quais trouxe várias medalhas para a escola.
Não sei se a senhora ainda está viva, mas esteja onde estiver, desculpa aí. Mas aquele evento da Loira da Rodrigues Alves não foi uma visagem, foi real! Kkk.
E eu não podia confessar essa molecagem infame só do outro lado da vida. Vai que não tem esse outro lado coisa nenhuma, né?
Mas que foi divertida, foi! (Rss).
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