MINHA CIDADE É TÃO LINDA!!!
Por Carla Nobre
A banda Placa Luminosa encanta-me com o verso “Minha cidade é tão linda...”. Sim, essa cidade que, em 2022, comemora 264 anos, é realmente muito linda. Do tempo que eu ia com a mamãe e meus irmãos na praia da vacaria, restam as boas lembranças e a alegria de pisar na lama do maior rio do mundo – o Amazonas. Hoje, século XXI, Macapá está ainda mais frondosa e radiante. A vacaria ainda está na orla urbanizada. Uma orla que permite aos moradores da cidade tucuju olhar admirados, todos os dias, um rio cheio de lendas, com sua maré enchente, seu vento delicioso e sua promessa de vida. Por tudo isso, a cidade de Macapá nos INSPIRA e hoje vamos repartir com nossos leitores três inspirações sobre essa cidade: Pat Andrade, Herbert Emanuel e Pedro Stkls.
PAT ANDRADE é uma poeta, artista plástica e produtora cultural da Amazônia, que vive em Macapá, no Meio do Mundo. Há pelo menos 14 anos, divulga seus poemas em livrinhos que ela mesma produz. Recentemente lançou o livro impresso O avesso do verso.
MACAPÁ, MINHA CIDADE
Minha cidade comemora
mais um ano de existência.
Digo minha, porque dela
me apodero, todos os dias,
em dura jornada;
todas as noites,
em longas caminhadas.
Macapá me cobre
com seu céu inconstante,
me descobre em versos e rimas;
me abriga em seus bares,
em suas ruas, em seus becos,
em suas praças, em seu rio…
Macapá me expõe, me resgata,
me ampara, me liberta…
E aqui permaneço,
retribuindo com meu amor,
minha esperança
e minha alma de poeta.
HERBERT EMANUEL tem 58 anos, é amapaense, poeta e professor de filosofia, com vários livros de poemas publicados, traduzidos para o castelhano, italiano e catalão. È poeta performático, com poesia sonora, em vários encontros de literatura e poesia por este Brasil afora. É integrante do Tatamirô Grupo de Poesia e do Pium Filmes - Movimento do Cinema Possível em Macapá.
DESTE OFÍCIO
aprisionado sobre o dorso
daquele velho tigre
sonhado por Borges
escrever como quem
repete os ritos
escrever para não sucumbir
para não rastejar
ou se deixar açoitar
pelas improbidades do mundo
escrever para não sobreviver
para submergir
para intensificar
escrever a contrapelo a contrapele
sobre a pedra escondida
sobre a pedra revelada
sobre as reservas de silícios
sobre os ossos calcinados
escrever para reter o tempo
para distender o espaço
escrever mesmo que se perca
o fio da meada
que se apague a estrela guia
que os teus passos virem pedra
que o tédio escave teu rosto
que a tristeza amortalhe teu corpo
que teus olhos sigam na penumbra
escrever também para estar só
em meio à multidão ruminante
PEDRO STKLS é poeta, compositor e integrante do grupo literomusical Poetas Azuis. Escreve para o blog “Bichos de Goiaba” e grava microdocs para o seu canal no Youtube.
A CIDADE SUBMERSA
quando a cidade quase submerge
agarra-se numa boia
um tronco de árvore sonâmbulo
que vagueia pelas águas
no mapa sublinho a palavra Macapá
que quer dizer:
senhora de óculos sentada de costas para o portão
com 264 primaveras floridas
em ma saia de marabaixo
a coisa mais bonita do mundo
aquilo que vem enfiado nos pés
uma ponta de madeira, uma dança
o meio do mundo
uma fortaleza nunca usada
lugar de muitas bacabas
boêmios, laguinho
por onde um trem nunca para
em nenhuma estação
há sempre de seguir viagem
é um trava língua pronunciar: buritizal
é inevitável sobretudo não dizer:
“cidade morena ou linha do equador”
desconfio que a palavra Macapá
não vem do tupi como dizem os historiadores
surpreendente seria se Macapá
tivesse sido extraída do barro escuro
que estranhamente se espreguiça
no rio amazonas.
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