MAYARA BRAGA: mãe e trabalhadora da cultura
Por Carla Nobre
Ainda no mês de maio, trago essa temática de ser mãe e trabalhadora da cultura, compondo minha cartografia. Hoje quero falar de uma artista linda: Mayara Braga. Ela lançou, recentemente, seu primeiro álbum, Negra Luz, através do Programa Natura Musical e da incubadora Pororoca Sound, sob a produção da Ói Nóiz Akí. que traz como temática a ancestralidade e o sagrado feminino, homenageando, inclusive, as Yabás (Orixás Mulheres). Mas sua trajetória na cultura amapaense é longa e bonita. Assim, podemos afirmar, sem medo de errar, que sua trajetória é feita de luz.
Em “Negra da Luz”, Mayara Braga canta a trajetória de uma vida inteira e sua paixão pela música revelando traços eruditos, da MPB, mesclados aos sons dos povos de terreiro e a referências da literatura. A experiência na área de Letras, permitiu à Mayara a montagem de um verdadeiro enredo de luta, fé, ancestralidade, empoderamento feminino e resistência que inicia com “Cheirando à sorte” composição coletiva de Edilson Moreno (PA), Zé Miguel (AP), João Batera (AP) e Walber Silva (AP), in memoriam. Essa música representa a essência feminina e as renúncias na condição de mãe, mulher, esposa e profissional em detrimento dos sonhos de menina cantora que encontrou na espiritualidade (Umbanda), possibilidades para seguir em frente.
Das mãos de Joãozinho Gomes, poeta e compositor paraense radicado no Amapá, e do acreano, Sergio Souto, “Toque de Midas” é um presente com reflexões políticas, a canção engrandece a resistência do povo brasileiro que protagoniza a própria história através do voto consciente, "Creio num sonho novo, amanhecido, esclarecido."
As influências dos terreiros na música de Mayara Braga tornam-se mais evidentes em "Versos que a manhã me deu", letra de Aldo Gatinho e música de Harināma Sukhī Dās (AP), que trata da relação de amor e confiança entre Mayara – a médium, e a Cabocla Mariana, entidade turca encantada nos Lençóis Maranhenses.
Num processo de gratidão por todas as graças intercedidas, agora eternizadas ao som do tambor neste álbum. Oxum e Iansã, também, recebem homenagens nas faixas “Deusa dos Orixás” de Jorge A. M. Maia (PA) e Cássio Pontes (PA/AP) e "Amor de Iansã", de Pai Oju Maurício Guiã (PA/AP), com toques do maracatu e do carimbó paraense.
Mayara Braga é fruto de uma geração talentosa e ávida por produzir cultura e arte, que vítima da inexistência de políticas públicas de fomento e incentivo à cultura, abriram mão de seus sonhos em busca de sobrevivência. Acolhida por Natura Musical, através da Pororoca Sound, viu mais do que a possibilidade de lançar seu primeiro álbum, resgatou canções e histórias perdidas no espaço-tempo, e nos brinda neste momento com músicas para dançar e refletir, pautando todo o seu processo criativo no respeito à diversidade cultural brasileira. Sintetiza, Claudio Silva, Produtor Executivo da Pororoca Sound que chega ao oitavo álbum lançado nesta primeira edição do projeto.
Aqui do Jornal dos Municípios nós desejamos vida longa à voz de Negra Luz e muito sucesso para essa açucena cheia de garra que é Mayara Braga.
Nesta edição eu contei com a colaboração de Paulo Rocha e as fotografias são do acervo pessoal da artista e foram gentilmente cedidas para essa edição da coluna.
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