COLUNA FÓRUM OPTIMUM
Por Adilson Garcia
BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE EDUCAÇÃO/CONHECIMENTO
Faço neste artigo algumas considerações sobre educação, tendo como base doutrinária o escólio de Edgard Morin, na fabulosa obra Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro (Unesco, 1999).
A educação é cega quanto ao que é conhecimento humano e não se preocupa em fazer conhecer o que é conhecer.
O conhecimento não pode ser considerado uma ferramenta pronta, pois impende que sua natureza seja examinada.
Há que se desenvolver o estudo das características cerebrais, mentais, culturais dos conhecimentos humanos, de seus processos e modalidades, das questões psíquicas e culturais que conduzem ao erro ou à ilusão.
O calcanhar-de-aquiles do conhecimento: Todo conhecimento comporta o risco do erro e da ilusão, devendo a educação mostrar que não há conhecimento que não esteja ameaçado pelo erro e pela ilusão. Aos erros de percepção acrescenta-se o erro intelectual. De fato, o sentimento, a raiva, o amor e a amizade podem nos cegar, havendo estreita relação entre inteligência e afetividade, podendo a capacidade de raciocinar ser prejudicada pelo déficit emocional.
Nenhuma teoria científica está imune contra o erro e o conhecimento científico não pode tratar sozinho dos problemas epistemológicos, filosóficos e éticos.
Os erros mentais: Não se distingue a alucinação da percepção, o sonho da vigília, o imaginário do real, o subjetivo do objetivo. As vias de entrada e saída com o mundo exterior do sistema neurocerebral representa 2% enquanto que o sistema interno representa 98% (sonhos, desejos, ideias, imagens, fantasias). Cada mente é dotada de potencial de mentira, que é fonte permanente de erros e ilusões.
Os erros intelectuais: Está na lógica de qualquer sistema de ideias resistir à informação que não lhe convém ou que não pode assimilar. As teorias resistem à agressão das teorias inimigas ou dos argumentos contrários.
Os erros da razão: A racionalidade é a melhor proteção contra o erro e a ilusão. A racionalidade construtiva elabora teorias coerentes, observando o caráter lógico da organização teórica, a compatibilidade de ideias, a concordância entre suas asserções e os dados empíricos, mas deve permanecer aberta ao que a contesta para não se fechar em doutrina e se converta em racionalização, pois daí a racionalidade traz possibilidade de erro e ilusão quando se perverte em racionalização.
A racionalização se crê racional porque se constitui um sistema lógico perfeito, fundamentado na dedução ou na indução, mas fundamenta-se em bases mutiladas ou falsas e nega-se à contestação e à verificação empírica e se constitui numa das fontes mais poderosas de erros e ilusões.
As cegueiras paradigmáticas: Não se joga o jogo da verdade e do erro somente na verificação empírica e na coerência lógica das teorias. Joga-se, também, profundamente, na zona invisível dos paradigmas.
Os indivíduos conhecem, pensam e agem segundo paradigmas inscritos culturalmente neles. O paradigma é inconsciente, para irriga o pensamento consciente, controla-o e, neste sentido, é também supraconsciente.
Em resumo, o paradigma instaura relações primordiais que constituem axiomas, determina conceitos, comanda discursos e/ou teorias.
O imprinting e a normalização: Ao determinismo de paradigmas e modelos explicativos associa-se o determinismo de convicções e crenças, que, quando reinam em uma sociedade, impõem a todos e a cada um a força imperativa do sagrado, a força normalizadora do dogma, a força proibitiva do tabu.
Isso determina os estereótipos cognitivos, as ideias recebidas sem exame, as crenças estúpidas não-contestadas, os absurdos triunfantes, a rejeição de evidências em nome da evidência, e faz reinar em toda parte os conformismos cognitivos e intelectuais.
Há o imprinting cultural, marca matricial que inscreve o conformismo e a normalização que elimina o que poderia contestá-lo. Imprintig é um termo proposto por Konrad Lorenz para dar conta da marca indelével imposta pelas primeiras experiências do animal recém-nascido.
O imprinting cultural marca os humanos desde o nascimento, com a cultura familiar, escolar, depois prossegue na universidade ou na vida profissional.
Noologia: Possessão. Noosfera significa a esfera das coisas do espírito, que surgiu com os mitos e os deuses.
O levante extraordinário dos seres espirituais impulsionou e arrastou o homem a delírios, massacres, crueldades, adorações, êxtases e sublimidades desconhecidas no mundo animal.
As crenças e as ideias não são somente produtos da mente, são também seres mentais que têm vida e poder, podendo nos possuir.
O inesperado: Instalamo-nos de maneira segura em nossas teorias e idéias e estas não tem estrutura para acolher o novo. É preciso ser capaz de rever nossas teorias e ideias, em vez de deixar o fato novo entrar à força na teoria incapaz de recebê-lo.
A incerteza do conhecimento: È necessário na educação destacar as grandes interrogações sobre nossas possibilidades de conhecer, pois quantas fontes, causas de erros e ilusão múltiplas e renovadas constantemente em todos os conhecimentos.
Quantos sofrimentos e desorientações foram causados por erros e ilusões ao longo da história humana, mormente no século XX. Por isso o problema cognitivo é de importância antropológica, política, social e histórica.
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