40 ANOS NA FUNAI
Edmar Mata
Advogado
Temos hoje no Amapá e Norte do Pará uma população indígena em torno de 14.000 cidadãos, então, antes de reclamarmos temos que verificarmos algumas situações de pendências. O DSEI/SESAI aqui nessa região talvez não chegue a 200 profissionais, a FUNAI hoje conta com 32 servidores.
Perceberam a diferença? Lembro que, quando fui Chefe da CASAI até o ano de 2000, eu e a esposa Nely Dayse(Enfermeira), ficávamos no trabalho até tarde da noite, não tínhamos final de semana ou feriado. Todos esses profissionais, sejam da SESAI ou da FUNAI também possuem família, sentem dor, fome, cansaço, ficam estressados com tanta carga emocional ou física sobre as suas costas.
Eu vi uma saída a algumas décadas atrás, de indicar e apoiar os próprios indígenas a se capacitarem, ajudarem a carregar a carga das demandas. Eu desloquei do Parque do Tumucumaque alguns indígenas (Ariné Apalay, Cecília Awaeko Apalay, Maruanary Apalay, Paulo Ronaldo Apalay e o cadeirante Aturapoty Apalay), todos para se capacitarem em Macapá/AP. Fizeram o Supletivo do 2° grau, Vestibular, Faculdade. Estão todos bem hoje. Eu iniciei primeiro em 1988 a inclusão dos indígenas nos benefícios sociais do INSS, que começou com 08 e hoje tem mais de 2.000 recebendo esses benefícios.
Já ajudei na capacitação de muitos Waiãpis, e de muitos indígenas do Oiapoque. Nesse momento mesmo existe nas dependências da FUNAI hospedados, se capacitando na educação, inclusive um ex-Cacique e Conselheiro do CONDISI de nome Alfredo. Enfim, são muitos para cobrar e poucos para resolver.
Vocês sabiam que neste exato momento há no Brasil, um negro ou branco procurando ajuda na porta de um Hospital.
Vocês sabiam que há pessoas com fome em cada esquina deste país, com pessoas revirando o lixo para comer alguma coisa.
Vocês sabiam que temos no Brasil 14 milhões de desempregados.
Vocês sabiam que em todo o Brasil as únicas Terras Indígenas identificadas, delimitadas, demarcadas, com publicação no D.O.U. e com registro em Cartório de Imóveis são as terras indígenas do Amapá e Norte do Pará?
Tenha a santa paciência, estou a 40 anos na FUNAI, e raríssimas vezes ouvi um “muito obrigado” de um indígena, mesmo quando eu estava ajudando ele de madrugada e deixando a minha família. Isso é cultural, pois os indígenas já sofreram por mais de 500 anos, e pensam que todos os “brancos” são iguais! Abraços!
Edmar Mata - Advogado
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